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sábado, 22 de setembro de 2012

Quem tem medo de palíndromos ou "Para Roma com Amor".

O prazer da rotina. Todos os anos Woody Allen lança um filme. É algo com que sempre podemos contar. Nestes tempos volúveis onde nada parece garantido, essa certeza de podermos cumprir com um prazer costumeiro tradicional simples, como ir ver  "o Allen deste ano" é reconfortante.
Sim, eu sei. Quantidade não é qualidade. Mas Allen fez algum filme verdadeiramente mau?
Certo é que há muito embarcou numa mediania que é pontuada ocasionalmente com lampejos do brilhantismo de outrora, como no filme do ano passado "Midnight in Paris" ou "Match Point" de 2005. Já ninguém espera que Allen lance uma obra prima. Apenas que revisite o seu particular universo paranoico a que nos habituou e francamente, não há nada de errado nisso.
Muda mais o cenário onde se passa a ação do enredo, do que propriamente as personagens. Londres, Paris, Barcelona ou qualquer outra cidade europeia, em que o realizador consiga financiamento para filmar. Não que isso seja propriamente um problema. Afinal os relatos de amores não correspondidos, personagens caricatos e obsessivos ou a observação da comédia do quotidiano são temas universais.
Neste "To Rome with love", quatro histórias se passeiam por Roma. Um anónimo cidadão torna-se famoso por ser famoso (Roberto Benigni). Jack um jovem arquitecto apaixona-se pela amiga da namorada (Jesse Eisenberg). Um jovem casal suburbano na grande cidade (Alessandro Tiberi /Alessandra Mastronardi) vê-se enredado em mil confusões que os tenta separar. Um agente artístico reformado (Woody Allen) tenta converter um agente funerário na mais nova coqueluche da música operática.
John (Alec Baldwin) surge como consciência conselheira, a tentar sem sucesso iluminar as ideias confusas do jovem arquitecto. John surge no ecrã ora como personagem presente e integrante do enredo que dialoga com os restantes personagens ora como conselheiro na mente de Jack. Um recurso aparentemente confuso, mas divertido e funcional.
A partir daqui vários gags resultam, o filme prende sempre a atenção do espectador com as suas personagens caricatas, situações surreais, humor inteligente, as eternas dúvidas sobre o amor e claro, Penélope Cruz. 
Temos então um Allen em piloto automático mas em boa forma. Bem superior a filmes recentes do autor como "You Will Meet a Tall Dark Stranger" ou "Cassandra's Dream", que mostravam um autor desinspirado.
O filme é sem dúvida um dos mais belos cartões postais que alguma vez se fizeram de Roma. As ruas, os monumentos. Allen faz-nos apaixonar por esta cidade. Chega a parecer exagerado e nada subtil, como que a gritar "venham a Roma", constantemente ao ouvido e olhos do espectador. Sim. Nós sabemos que alguém teve de pagar a conta do filme e Roma tem de ser "vendida". Mas deixemo-nos de cinismos e abracemos a "Dolce Vita", como de resto fazem todos os personagens do filme. Um cliché? provavelmente, afinal "em Roma sê romano".
 


Título original: «To Rome with Love»
Realização: Woody Allen
Elenco: Alec Baldwin, Ellen Page, Ornella Muti, Penélope Cruz, Roberto Benigni e Woody Allen
Género: Comédia

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Da Coreia do Sul com amor - Parte II: "War of the Arrows"

Robin dos Bosque? Guilherme Tell? Esqueçam. Os derradeiros mestres do arco e flecha são coreanos e não ingleses ou suiços.
Dois irmãos, filhos de um suposto traidor do Rei, escapam do massacre que destrói toda a sua família e clã. São escondidos e acolhidos por um clã amigo. O irmão mais velho vive deprimido e assombrado pelo passado do pai traidor e pela promessa que lhe fez de proteger a irmã, nunca se sentindo verdadeiramente integrado na nova família.
Anos mais tarde durante o casamento da irmã, o massacre repete-se. Todos são capturados ou mortos, com a exceção do irmão herói que empreende uma missão de busca e resgate da irmã.
Cliché? Sem dúvida. Todos os lugares comuns, do herói amargurado com promessas por cumprir e sentimentos de culpa, são telegrafados.

Mas só por que a originalidade não mora aqui, isso não quer que o filme não seja divertido. Afinal os lugares comuns também falam verdade, pois também é vulgar dizer-se que todas as histórias já foram contadas e o que interessa não é tanto o que se diz, mas como se diz.
Se a primeira parte do filme é um pouco irregular e a previsibilidade até chateia, quando o filme realmente arranca, a ação nunca pára,  bem coreografada, encadeada e com sentido absoluto de ritmo, deixando o espetador respirar nos momentos certos. O filme caminha para o seu final num crescendo empolgante e extremamente funcional. 

Arte marciais? Cenas de luta corpo a corpo muito elaboradas? Nada disso. Tudo se resume à mestria do arco e é realmente impressionante como conseguiram imprimir tanto entusiamo e tanta tensão numa arma tão primitiva.
O filme funciona por isso mesmo. O realizador (Kim Han-min) filma de forma belíssima e inteligente as cenas de perseguição e disparo do arco, retirando a música em momentos chave, perminto ao espetador ouvir e quase sentir a tensão do arco estendido nas mãos do atirador, fazendo da matança um bailado muito agradável de se ver.
Em suma, a Coreia do Sul volta a marcar no placar e a provar (como se fosse preciso) que Chan-wook Park ou kim ki duk  não são os únicos trunfos do seu cinema.
 
 
War of the Arrows
De: Kim Han-min
Com: Park Hae-il, Moon Chae-wonm, Ryoo Seung-ryong
Género: Drama/Ação
Classificacao: M/12

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Da Noruega com Amor: "Oslo, 31 de Agosto"

O que fazer quando o espaço em volta não nos diz nada? Quando não nos pertence? 
 
Oslo, 31 de Agosto narra a história de Anders, um jovem adulto de trinta e quatro anos, que se encontra na fase final de tratamento numa clinica de reabilitação para toxicodependentes.
 
Anders tenta, com diferentes graus de sucesso, reencontrar os velhos amigos e familia depois da larga temporada na clínica. Mas será que Anders esteve alguma vez integrado na sua micro-sociedade?
O filme mostra como todo o universo em redor de Anders mudou por causa da sua condição. Os pais, os amigos, a namorada e quanto eles estão ou não dispostos a aceita-lo de volta ao seu convívio.
 
A fotografia do filme é belíssima e faz a cidade de Oslo brilhar mas ao mesmo tempo reafirma a universalidade daquela história que se poderia passar em qualquer lugar.
 
O realizador Joachim Trier é hábil ao inserir o espectador no universo do seu protagonista.
A câmara surge várias vezes como que a espiar Anders. Por cima do ombro de outro residente numa sessão na clínica ou por detrás de uma árvore no parque, assistimos ao lento morrer dos dias do protagonista quase in loco. Como cúmplices da cena. A fotografia fria e cinzenta e a banda-sonora lenta e melancólica (Daft Punk; Desire) só nos empurra ainda mais para dentro do filme e daquela vida.
 
Anders sente-se sozinho no meio da multidão. Em festas, cafés... ouve os quotidianos dos que o rodeia, tenta integrar-se num espaço em que provavelmente nunca se sentiu confortável.
Anders Danielson Lie é o ator principal que representa no ecrã um outro Anders, numa interpretação tão crua quanto verdadeira. Emociona pela sua candura e sinceridade.

O filme, que prova mais uma vez que nem só de bacalhau vive a Noruega, ainda tem tempo para uma rápida citação de "Mad Men", onde pelos vistos, até na Noruega faz mossa.
O final não faz cedências ao espetador e acaba com tem de acabar. No fim o protagonista está como no inicio. Só. Mas no final não estamos todos?
Um dos melhores filmes do ano e sério candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
 
 

Oslo, 31 de Agosto
De: Joachim Trier
Com: Anders Danielsen Lie, Hans Olav Brenner, Ingrid Olava
Género: Drama
Classificacao: M/12

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Grandes Heróis Marvel # 4 e 5 - X-FORCE: Sexo + Violência

 
Dificilmente podemos julgar toda uma obra a partir do título. Esta é uma exceção. Nos números 4 e 5 de GHM (edição da Panini Comics), sexo e violência escorrem por todas as páginas.Ok. Bem mais o segundo caso que o primeiro, mas a tónica realmente assenta nesses dois vetores de imediato apelo. Se isso é mau? Como diria Jack Estripador "vamos por partes".
 
A partitura é escrita a duas mãos, Craig Kyle e Chris Yost. Dupla conhecida pela sua carreira na X-Force. Os desenhos ficam a cargo de Gabriele Dell'Otto (de "Guerra Secreta", saga bastante importante na cronologia marvel, escrita por B.M. Bendis, mas muito pouco referenciada).
 
Se o texto é escorreito e despretencioso, a arte é brilhante e por si só valeria a edição. Felizmente as desventuras de Dominó e Wolverine (o resto da equipa aqui é apenas secundária) divertem pelos seus diálogos ácidos, pela quimica entre personagens e consequente empatia com o leitor.
Se as cenas de sexo parecem forçadas? considerando os personagens que são, eu não esperava grandes romantismos. O pragmatismo aliado à condição humana de que somos apenas carne e ossos ou no caso, mutantes.
Assim sendo,  não estamos a falar propriamente de Shakespeare.
Dominó envolve-se com a Liga de Assassinos e sua lider, a ex esposa de Gambit,  Belladonna. Surgem mais alguns personagens e confrontos surpresa e sobra para Wolverine e companhia salvar o dia. Tudo regado com diálogos rápidos e eventual sexo.
 
Os comics também são isto. Entretenimento puro sem pretensões a ensinar o que quer que seja. E quando é feito assim, com boa dinâmica de ação e transição de quadros, a leitura é um prazer.
 
O mesmo não se pode dizer do inicio do arco "Xenogênese" (em GHM #5), escrito por Warren Ellis (Authority, Planetary) e com arte de Kaare Andrews (Gen13, Homem Aranha).
Os X-Men são contatados por T'challa, para investigarem vários casos estranhos de nascimentos de bebés, aparentemente mutantes (na maioria dos casos o gene mutante só desperta na puberdade).
 
A partir desta premissa, os diálogos entre os personagens discorrem em chorrilhos e clichés básicos sobre os vários governantes das nações africanas e sobre o próprio povo.
É estranho ver alguém com o curriculo de Ellis, escrever de forma tão vulgar e desinspirada, em constante "in your face" com o leitor, num panfletarismo rídiculo.
Mas se o texto é fraco e a ação não desenvolve, os desenhos deixam francamente a desejar. Ainda que se releve alguns problemas de anatomia, Andrews é particularmente mau a desenhar os rostos das personagens femininas (com destaque para Armadura e Emma).
Espero francamente que os autores no próximo número elevem a fasquia, pois até ao momento é francamente dispensável.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Da Coreia do Sul com amor.

A Coreia do Sul é dos países mais badalados dos ultimos tempos. Seja através da sua vibrante indústria cinematográfica ou pela famigerada K-POP, um burburinho cada vez mais alto, põe este país sob os holofotes, liderando assim o buzz azeiteiro do momento.
Se os LMFAO matariam, os BEP patrocinariam um massacre, para estarem por detrás deste fenómeno.
"Gangnam Style" é o nome do hit coreográfico coreano de que todos falam. De Sidney a Nova Iorque, as flashmobs em torno desta música multiplicam-se, bem como os cada vez mais artistas (Nelly Furtado, Wanted...) que referenciam a demoníaca canção.
O seu autor, PSY, já era uma estrela pop no seu país mas agora que o video de seu maior hit ultrapassou as 100 milhões de visualizações e co-apresentou os MTV VMA deste ano, SPY é o novo Deus de Seul.
SPY sem dúvida merece pontos extra, por usar o seu humor e inteligência na criação destes movimentos quase satânicos que parecem paridos de um cruzamento entre a "Macarena" e um cavalo. Heresia? digo-vos que não. Considero a conciliação entre o hipismo e a dança uma solução de vanguarda que pode abrir novos horizontes no mundo performático.

 
Mas coincidentemente, no cinema, a Coreia do Sul também está na berra pois um seus mais famosos realizadores Kim Ki-Duk (Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera) ganhou este ano o Leão de Ouro pelo seu novo filme "Pietá". Kim é um cineasta de qualidade irregular. Aguardo pelo novo filme com a devida cautela.
Em suma mantenham os coreanos do sul da mesma maneira que estes mantêm os coreanos do norte. Debaixo de olho em bico.
 
 
 

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