Muito se discute qual é melhor ator Bond. O melhor Bond é o Bond do momento. O Bond de Roger Moore parece-nos hoje pateta e kitch? provavelmente. Mas quantos filmes Bond Roger fez? naquela altura, aquela abordagem fazia todo o sentido. Assim, hoje, este Daniel Bond é o ideal.
O Bond de Daniel Craig é direto, duro e incisivo, portanto vamos ser prátcos. As más noticias? o génerico inicial é um dos mais desinteressantes da série, a música da Adele não sendo má, fica bem atrás de muitas do historial da franquia e o pior, o realizador resolve telegrafar o final do filme logo no inicio. Francamente. Pôr o ator Ralph Fiennes a interpretar uma personagem cujo o nome começa pela letra "M" a falar com a histórica "M" (Judi Dench) sobre a possível reforma desta? Quem não adivinhou o que ia acontecer? e quem disse que isso era uma boa ideia? Pôr um homem no lugar de M não me agrada minimamente. Com a troca de género, a dinâmica e quimica entre M e Bond fica completamente alterada nos filmes futuros.
As boas noticias é que apesar desse amargo de boca, o filme increve-se seguramente num dos melhores Bond de sempre.
A assinatura do consagrado Sam Mendes se faz notar na elegância dos planos e realização segura. Lembram-se da montagem confusa das cenas de ação de Quantum of Solace? a desilusão que foi Marc Forster quase fica esquecida, com a pérola que é este filme.
Cenas de ação empolgantes, personagens carismáticos, piscadelas várias ao passado e aprofundamento da persona Bond, fazem deste filme um prato cheio para fãs xiitas e simultaneamente, completamente acessível ao público genérico.
Javier Bardem. Por toda a internet todos louvam a sua personagem e a sua prestação no filme. O que é merecedor (como se não soubessemos já o excelente ator que é). Mas muitas opiniões referem que o seu personagem "Silva", exuberante e afetado, não encaixa em pleno neste novo Bond de humor seco e com uma abordagem realista. Acho isso profundamente idiota. Aparente no cinema ou na TV personagens gays não podem ser vilões. Ou são boas pessoas ou como na maioria dos casos, são simplesmente o alívio cómico estereotipado. Todos os gays ou bissexuais são simplemente por existitirem, boas pessoas? Isso é realista? É extremamente discriminatório que na ficção, os personagens gay não possam ser também sociopatas ou quiça, genocidas.
E isso leva-nos a uma das melhores cenas do filme, onde em conversa com Silva, Bond (que sempre vimos quase como um womanizer) revela-se...como hei de dizer isto sem configurar um spoiler... Enfim. Descobrimos que Bond é afinal um 2,5 nas escala de Kinsey. E sim. Isso é muito realista.
Nas mãos de Sam Mendes, Craig faz seu Bond brilhar mais do que nunca, mostrando-se mais humano e menos heroi. É apenas um homem a fazer o seu trabalho. E fica bem claro: "ele é o melhor naquilo que faz".